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GEOGRAFIAS

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Geografias, foram duas mostras coletivas propostas em duas unidades do SESC, nas cidades de Jundiaí e Santos respectivamente. A minha participação nos dois casos, pensa sobre aspectos da colonização com a paisagem, e cria uma visualidade imperativa pela escala dos trabalhos. 

Em Jundiaí, o relevo de montanha,  que poderia ser algum lugar da "Serra do Japi", é desenhado ocupando a lateral externa do prédio da unidade do SESC. A Serra do Japi, é uma pequena cadeia de montanhas, um reduto de Mata Atlântica com sua vida selvagem, que resiste  ilhado entre cidades, industrias e atividades agrícolas. O desenho tenta "ampliar" essa presença na cidade.

Na exposição de Santos, uma lona de caminhoneiro medindo aproximadamente 18m x 4 m, pendurada no teto do enorme salão do Sesc,  sintetiza o percurso que os portugueses fizeram para chegar em Piratininga, fundando São Paulo. Uma vista aérea mostra a topografia que era atravessada por trilhas indígenas,  posteriormente percorrida pela ferrovia que estabelecia que se essa terra antes era dos nativos, passou a ser do colonizador.

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Nosso lugar é caminho, por Bernardo Mosqueira Fevereiro de 2017

(ao meu amor)

Geografia é a área do conhecimento que estuda a paisagem formada pela relação entre os sistemas de ações ou práticas sociais do humano e o sistema de dispersão de objetos no mundo. Muito além de um conjunto de características morfológicas, a geografia deve ser entendida como a atividade constante de criação de encadeamento lógico sobre a ordem espacial das coisas. É por meio da pesquisa geográfica (na relação entre espaço, sentido e valor, por exemplo) que podemos produzir conceitos para uma teoria social sobre contemporaneidade de forma a construir, também, a própria transformação do mundo que habitamos.

Tudo o que o humano realiza na superfície da terra, ou seja, toda expressão da técnica que transforma fisicamente a paisagem a partir da própria paisagem, acontece para atender às necessidades humanas mais fundamentais, como nutrir-se, abrigar-se, relacionar-se, reproduzir-se, movimentar-se, ter consigo objetos úteis, dar sentido a si e às coisas etc. O que podemos encontrar quando examinamos atenciosamente o espaço que o humano construiu para lhe rodear? De que forma aquilo que nos cerca está para nos ensinar sobre nós mesmos? A paisagem complexa em que vivemos é resultado de muitas camadas de história sobre o mesmo lugar, de sequências de diferentes relações entre atividade humana e estrutura física do mundo. A geografia escuta as perguntas feitas pela paisagem, composta por suas tantas marcas enigmáticas. 

Da perspectiva cultural, a paisagem é justamente onde acontece a mediação entre o mundo das coisas e o da subjetividade humana, é uma “forma de ver”, é o objeto do processo ativo de criação e significação de “perceber” o mundo. 

A presente exposição reúne frutos muito diversos dos encontros entre os sussurros das paisagens de Santos e as pesquisas de um grupo de artistas. “Geografias – nosso lugar é caminho”, é a segunda mostra de uma trilogia iniciada no Sesc Jundiaí em 2016 e que se encerrará em São Paulo em 2018. A palavra “Geografia” (que, sobretudo, é uma ciência moderna, constituída e constituinte da epistemologia hegemônica), em sua presença nos títulos das mostras, serve como metáfora à site-specificity das pesquisas realizadas.

Esse projeto resulta da articulação coletiva entre sete artistas que são atuais membros ou antigos participantes do grupo de estudos do Ateliê Fidalga, conduzido pelos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso na capital paulistana. O subtítulo da mostra faz referência ao fato de que, entre os meses de dezembro de 2016 e fevereiro de 2017, os artistas organizaram, em parceria com o SESC e com a participação do público, uma série de caminhadas por diversas regiões da cidade, nas quais puderam praticar formas alternativas (não-científica, não-hegemônicas) de criar paisagens, de examinar o espaço urbano.

O caminhar é um processo especial de reconhecer territórios e de construir conhecimento sobre um lugar. Na deriva ambulatória, não vemos o mundo com o distanciamento de quem observa um mapa como se sobrevoasse a cidade com olhos universais. Caminhando ao rés do chão, podemos ver as marcas do tempo e da história, não contornamos os sinais da desigualdade social e da exploração do homem pelo homem, carregamos dentro de nós nossa cultura, sentimos os cheiros das esquinas, estamos igualitariamente com objetos, animais e plantas, somos menores que os muros, maiores que quase nada. 

Foi por meio do caminhar em Santos que os artistas Cristina Ataide, Daniel Caballero, Flavia Mielnik, Helen Faganello, Laura Gorski, Renata Cruz e Renato Leal investigaram essa cidade cujo desenvolvimento é entrelaçado à História do Brasil, com um fluxo de formação social e cultural complexo e cheio de dobras, que é parte insular e parte continental, diretamente ligada ao fundo do Oceano Atlântico e ao topo Serra do Mar, que contém o maior porto da América Latina e uma enorme Área de Proteção Ambiental. Os diferentes aspectos da geografia de Santos ecoaram vacantes em cada um dos artistas de maneira que essa exposição oferece ao público paisagens que são fragmentos costurados de paisagem. Essa mostra, uma reunião de olhares simultâneos e alternativos sobre o mesmo lugar, nos inspira a noção de há muitas maneiras de perceber, aprender e se envolver afetivamente com um mesmo entorno. Pois, afinal, o que será que responderemos às paisagens quando passarmos a nos permitir ouvir as perguntas que nos fazem?

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