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Dark Tropiclia, 2019

A post-natural iconography, based on the residual mixture of biomes and cultures that were established in cities and occupied spaces, as a legacy or ruin of the Brazilian people.

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Dark Tropicália #01, 2019, 2.20m x 3.60m, acrylic on truck tarpaulin, presented at the exhibition "Environmental art and movements" at MuBE, curated by Cauê Alves and Marcia Hirota.

Três Paisagens, por Cauê Alves

 

 

Mais do que um espaço ou território determinado a paisagem é também uma construção. Além de elementos naturais e geográficos, algo da história e da cultura está presente na paisagem. Ela está intimamente ligada ao horizonte de possibilidades e, por isso, possui uma dimensão temporal. Ou seja, a paisagem está ligada às projeções, ao que ainda irá acontecer, ao porvir, e também ao devir. Seja natural ou artificial, a paisagem está diante ou ao redor de nós e portanto é indissociável do ambiente em que vivemos. Ela foi objeto de investigação das ciências e das artes, desde os naturalistas que passaram pela América do Sul nos séculos anteriores, como Karl Friedrich Philipp von Martius e Alexander von Humboldt, até artistas contemporâneos como os que integram a mostra Três Paisagens.

Entre os modernistas, fundamental é a pesquisa de Roberto Burle Marx, que ao longo de sua trajetória, além da mata atlântica, trabalhou com plantas do cerrado, espécies amazônicas e do sertão nordestino. Ele valorizou as espécies nacionais até então desprezadas e, entre o trabalho de artista e o de cientista amador, realizou dezenas de expedições em que descobriu espécies ainda não catalogadas. Mais do que fazer jardins, a paisagem para Burle Marx é construção de espaço público, áreas de encontro e convívio com o diferente.

Em 1965, Hélio Oiticica chamou de manifestação ambiental uma série de capas, estandartes e tendas, com a ênfase no corpo e em experiências sensoriais.  Dois anos depois realizou Tropicália, uma espécie de jardim, ou melhor, um ambiente com areia, pedras, plantas, papagaio, construções em madeira (Penetráveis) e poemas. Nesse ambiente tropical e colorido, havia uma alusão a paisagem carioca, aos morros e favelas. Além disso, o artista tinha vontade de elaborar uma imagem, mesmo que nada edificante, da realidade brasileira. Ela estava vinculada com a dança, o samba e a participação do espectador. Algo da impossibilidade de um Brasil moderno e civilizado estava colocado em Tropicália de Oiticica.

Mais de 50 anos depois, Daniel Caballero participa na Casa do Parque de Três Paisagens, com Dark Tropicália, 2019. A série de quatro pinturas sobre lonas de caminhão traz imagens de paisagens tropicais da mata atlântica tendo o preto como cor predominante. Em vez de ressaltar o verde vigoroso das matas, usar cores saturadas ou algo de uma paleta de cores tropicais, Caballero nos chama atenção para as trevas e para a escuridão. De fato, a sensação geral é a de vivermos numa época obscurantista, de ocaso. No momento em que dados científicos são simplesmente negados em nome de crenças, parece que as luzes estão mesmo se apagando e que estamos no meio da tempestade.

A montagem das paisagens em grandes formatos bem próximas uma das outras cria uma espécie de ambiente. De perto vemos apenas borrões, linhas e manchas carregadas que se distanciam de um desenho frio ou duro. É apenas com o recuo que o nosso olhar se afasta do gesto do artista e apreende uma totalidade que se revela sempre por partes. A partir dos enquadramentos escolhidos é como se nunca pudéssemos ter a experiência com o todo da floresta, vemos sempre fragmentos, pedaços de árvores ou cipós.

Mais do que pintor, Caballero é também uma espécie de viajante naturalista contemporâneo que faz expedições pelos terrenos de Piratininga. Desde 2015, ele tem desenvolvido o projeto Cerrado Infinito a partir da pesquisa em terrenos baldios e remanescentes do cerrado no planalto paulista, que possui características bem diferentes da mata atlântica comum na Serra do Mar. No vídeo Transplante de Paisagem, o artista reativa uma praça na cidade de São Paulo a partir do momento que transplanta e cultiva espécies típicas do cerrado paulista no espaço público. O processo, por definição sem fim, conta com  colaboração de diversos agentes e parceiros que se juntaram em torno da causa. Além de um ativismo político, o trabalho trata da resistência das espécies que tradicionalmente são desvalorizadas e compreendidas como mato a ser exterminado. A obra de Caballero se coloca contra a homogeneização da paisagem e reabre uma discussão sobre a relação entre o ambiente e a construção de vistas urbanas.

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Dark Tropicália #02, 2019, 2.20m x 3.60m, acrylic on truck tarpaulin, presented at the exhibition "Three landscapes" at Casa do Parque.

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Dark Tropicália #03, 2019, 2.20m x 3.60m, acrylic on truck tarpaulin, presented at the exhibition "Three landscapes" at Casa do Parque.

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Dark Tropicália #04, 2019, 2.20m x 3.60m, acrylic on truck tarpaulin, presented at the exhibition "Three landscapes" at Casa do Parque.

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Dark Tropicália 05, 2019, 2.20m x 3.60m, acrylic on truck tarpaulin, presented at the exhibition "Three landscapes" at Casa do Parque.

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Daniel Caballero © 2025

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