Try walking with my shoes / Coloque-se no meu lugar, 2015...
Série político-poética de estandartes, lambes e camisetas.





"Try Walking in my shoes", foi uma instalação com estandartes que fez parte da exposição Tóxico Trópico realizada em Lisboa em 2015 na Galeria Carlos Carvalho.
Os desenhos de árvores podadas com postes me acompanham desde o início da minha produção, mas a configuração como um estandarte de tecido com a frase, "Try walking in my shoes" é consequência das manifestações de 2013 no Brasil, que depois de inicialmente catalisar toda a população a se manifestar nas ruas, a dividiu, polarizando o debate em extremos ideológicos opostos. Na época, o conjunto, posicionado como uma manifestação politica, formava uma floresta silenciosa esvaziada de pessoas, que reivindicava algo impossível, até por que não tinham cabos para serem empunhados.
Em 2019 uma nova versão apareceu na paisagem urbana de São Paulo com a frase título traduzida para "Coloque-se no meu lugar", durante a exposição Jardinalidades no SESC Parque Dom Pedro. Esta unidade do SESC foi instalada no terreno do antigo Edifício São Vito, o famoso "Treme Treme", na época o maior cortiço vertical da cidade, demolido de forma traumática com a expulsão dos moradores. A paisagem ao redor com o Mercado Municipal, o Rio Tamanduateí canalizado e poluído, um viaduto e outras vias movimentadas com comércio de rua, e ao fundo os prédios do Centro revela uma paisagem árida, em que o conjunto de árvores atuou como participante da paisagem, espelhando tanto os letreiros improvisados do comércio, popular quanto as poucas árvores torturadas no calçamento próximo.
Algumas semanas depois, as árvores originais participaram da Greve Global Pelo Clima, evento simultâneo ocorrido em muitas cidades pelo mundo. Empunhadas pelo grupo de ativistas do Fórum Verde Permanente de Parques, Praças e Áreas Verdes, finalmente ocuparam o lugar que serviu de inspiração, as manifestações politicas de rua. O conjunto foi encorpado com novas faixas do próprio slogan, "Coloque-se no meu lugar", entre outras frases, e identidades visuais. A relação com as pessoas foi muito interessante, ajudando a compor a graça de um evento que no fim era muito festivo. Além das reivindicações, era um território de reconhecimento entre pessoas que estavam ali por uma questão comum á todos.
Se anos depois, a polarização politica se tornou intransponível, e os debates contrários cada vez mais violentos, atualmente é ainda mais necessário criar novas formas de engajamento. Gosto muito da linguagem panfletária e do desafio de criar uma mensagem clara, entretanto permitindo camadas de reflexão que vão além da reivindicação pontual. Como ponto central, este trabalho estabelece uma condição básica, o diálogo com qualquer questão, e problemática, subvertendo o protesto para uma reflexão e aproximação entre os pólos opostos do debate político. Com essas duas ações, o trabalho foi retomado, e já se multiplica em novas situações e possibilidades, além dos estandartes, outdoors, camisetas e lambe-lambes, expandem o repertório de mídias nômades urbanas. A temática também se expandiu, para outras iconografias, que subvertem uma estética derivada do enciclopedismo iluminista, que relaciona plantas e paisagens naturais, com as consequências colonialistas no cotidiano atual das pessoas.

Exposição Húmus, e o Cortejo dos Campos Invisíveis, 2025
Como parte dos eventos do "IV Seminário Arte e Natureza", organizado pelo professor e artista Hugo Fortes, onde participei com a fala "Não somos apenas floresta, também somos campos floridos", a mostra "Húmus", no EdA - Espaço das Artes ECA USP, com curadoria de Ana Carolina Relston, Hugo Fortes,e Sandra Rey , apresentou entre 100 artistas conectados ao assunto, uma composição dos estandartes. Enquanto no espaço expositivo eles eram exibidos presos em suportes, organizamos o "Cortejo dos Campos invisíveis", no espaço livre do Cerrado Infinito, com a participação de todos os presentes. A fala, a instalação e o cortejo, reposicionam a série buscando um debate frontal contra o que à tempos tem sido chamado de "arvorecentrismo", a idéia de que a ecologia e a preservação podem se basear apenas no cuidados com as árvores, em detrimento de outros ecossistemas não florestais.




Tamanduateí-Monumento, Nunca foi pântano, apenas paraíso, 2024
Montado no Viveiro Manequinho Lopes, no Parque do Ibirapuera, o outdoor, mostra a várzea do rio Tamanduateí, atualmente Terminal de ónibus do Parque Dom Pedro I, onde um dos ónibus, da Viação Monumento, afunda na lama. A reconstituição da paisagem baseada em uma aquarela do Debret, retrata a vista da colina onde está o Pátio do Colégio, onde se estabeleceu a Vila de São Paulo dos Campos de Piratininga.
Esta é a segunda versão do outdoor, originariamente apresentado na mostra "Jardinalidades", que aconteceu em 2019 na unidade do SESC Parque Dom Pedro I.


Greve climática global, com o Fórum Verde Permanente 2019
A aliança com o Fórum Verde, e outros grupos ambientalistas é programática, engajar o maior número possível de pessoas para se contrapor á destruição do planeta. Mas vamos por partes. Primeiro vamos começar com nossa cidade.




Exposição 'Tóxico Trópico" 2015
Dez anos antes, os estandartes apontavam a fratura da população em polos opostos do espectro político. Sem clima para uma conversa elas foram exibidas fixas, sem os cabos, e portanto sem poderem ir a lugar algum.




